terça-feira, 30 de julho de 2013

Papa Francisco e a Lumen Fidei





LUMEN FIDEI

A luz da fé
A encíclica do Papa Francisco escrita a quatro mãos
O Papa Francisco nos ensina a compreender e viver melhor a nossa fé


A FÉ LIGADA NA ESCUTA

A fé está ligada à escuta. Abraão não vê Deus, mas ouve a sua voz. Deste modo, a fé assume um carácter pessoal: o Senhor não é o Deus de um lugar, nem mesmo o Deus vinculado a um tempo sagrado específico, mas o Deus de uma pessoa, concretamente o Deus de Abraão, Isaac e Jaco.

ISRAEL FRAQUEJA NA FÉ

A história de Israel mostra-nos ainda a tentação da incredulidade, em que o povo caiu várias vezes. Aparece aqui o contrário da fé: a idolatria. Enquanto Moisés fala com Deus no Sinai, o povo não suporta o mistério do rosto divino escondido, não suporta o tempo de espera.
O ato de fé do indivíduo insere-se numa comunidade, no « nós » comum do povo, que, na fé, é como um só homem: « o meu filho primogénito », assim Deus designa¬rá todo o Israel (cf. Ex 4, 22).

A fé é um dom gratuito de Deus, que exige a humildade e a coragem de fiar-se e entregar-se para ver o caminho luminoso do encontro entre Deus e os homens.
Cardeal Dom Odilo...
“Portanto, a fé cristã é fé no Amor pleno, no seu poder eficaz, na sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo”. « Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele » (1 Jo 4, 16).

Enquanto ressuscitado, Cristo é testemunha fiável, digna de fé (cf. Ap 1, 5; Heb 2, 17), apoio firme para a nossa fé. « Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé », afirma São Paulo (1 Cor 15, 17).

A SALVAÇÃO PELA FÉ

São Paulo acredita que, ao aceitar o dom da fé, o ser humano é transformado numa nova criatura, recebe um novo ser, um ser filial, torna-se filho no Filho.
A salvação pela fé consiste em reconhecer o primado do dom de Deus, como resume São Paulo: « Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós, é dom de Deus » (Ef 2, 8).

A nova lógica da fé centra-se em Cristo. A fé em Cristo salva-nos, porque é n’Ele que a vida se abre radicalmente a um Amor que nos prece¬de e transforma a partir de dentro, que age em nós e conosco.
Na fé, o « eu » do crente dilata-se para ser habitado por um Outro, para viver num Outro, e assim a sua vida amplia-se no Amor. É aqui que se situa a ação própria do Espírito Santo...
O cristão pode ter os olhos de Jesus, os seus sentimentos, a sua predisposição filial, porque é feito participante do seu Amor, que é o Espírito; é neste Amor que se recebe, de algum modo, a visão própria de Jesus.

A FORMA ECLESIAL DA FÉ

A fé tem uma forma necessariamente eclesial, é professada partindo do corpo de Cristo, como comunhão concreta dos crentes. A partir deste lugar eclesial, ela abre o indivíduo cristão a todos os homens.
A fé não é um fato privado, uma concepção individualista, uma opinião subjetiva, mas nasce de uma escuta e destina-se a ser pronunciada e a tornar-se anúncio.

UMA LUZ ILUSÓRIA...

A luz da fé é a expressão com que a tradição da Igreja designou o grande dom trazido por Jesus. Eis como Ele Se nos apresenta, no Evangelho de João: « Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas » (Jo 12, 46).
Podemos nos perguntar se essa luz é ilusória, em contrapartida com a razão. Por muito tempo acreditou-se que a fé só caberia onde a razão não conseguia explicar. Assim fé cai num vazio, afirma o Pontífice. Pensar a fé como mero suplemento da razão seria empobrecê-la.
Como a razão não conseguiu responder todas as inquietudes humanas, logo o homem cai num vazio existencial. Quando falta a luz, perde-se o rumo da estrada.

RECUPERAR A LUZ

Redescobrir a luz, implica em afirmar que ela já existe e está em nós. Muitas vezes encontra-se apagada, por isso o Papa insiste na redescoberta, pois essa luz é capaz de dar sentido a existência. Para tal, ele insiste na experiência com Deus.
A fé que recebemos de Deus como dom sobrenatural, deve vir como luz que ilumina a estrada da vida e dá sentido. Por isso precisamos redescobri-la.

O Concílio Vaticano II fez brilhar a fé no âmbito da experiência humana, percorrendo assim os caminhos do homem contemporâneo. Desta forma, se viu como a fé enriquece a existência humana em todas as suas dimensões.

SE NÃO ACREDITARDES, NÃO COMPREENDEREIS...

Um belo capítulo trata da transmissão da fé: esta é uma das preocupações sérias da Igreja em nossos dias. O Papa fala que a Igreja é “a mãe da nossa fé”.

A fé não é um fato individual e subjetivo: aquilo que cremos foi transmitido a nós, vem de longe, dos apóstolos! “Transmiti-vos aquilo que eu mesmo recebi”, observou São Paulo (1Cor 15,3).

FÉ E VERDADE

Se o amor tem necessidade da verdade, também a verdade precisa do amor; amor e verdade não se podem separar. Sem o amor, a verdade torna-se fria, impessoal, gravosa para a vida concreta da pessoa.

O conhecimento da fé ilumina não só o caminho particular de um povo, mas também o percurso inteiro do mundo criado, desde a origem até à sua consumação.

A FÉ COMO ESCUTA E VISÃO

Ver Jesus é algo fundamental que acorreu com os discípulos e demais pessoas. Muitos creram por terem visto, mas muito creram por terem ouvido.

O ver, graças à sua união com o ouvir, torna-se seguimento de Cristo; e a fé aparece como um caminho do olhar em que os olhos se habituam a ver em profundidade. Pela fé, podemos tocar Deus. Agostinho diz: tocar com o coração isto sim é crer.

FÉ E RAZÃO

A luz do amor, própria da fé, pode iluminar as perguntas do nosso tempo acerca da verdade.

Por outro lado, enquanto unida à verdade do amor, a luz da fé não é alheia ao mundo material, porque o amor vive-se sempre com corpo e alma; a luz da fé é luz encarnada, que dimana da vida luminosa de Jesus.

A fé desperta o sentido crítico, enquanto impede a pesquisa de se deter, satisfeita, nas suas fórmulas e ajuda-a a compreender que a natureza sempre as ultrapassa. Convidando a maravilhar-se diante do mistério da criação, a fé alarga os horizontes da razão...


A FÉ E A BUSCA DE DEUS

A luz da fé em Jesus ilumina também o caminho de todos aqueles que procuram a Deus...
O caminho do homem religioso passa pela confissão de um Deus que cuida dele e que Se pode encontrar. Que outra recompensa poderia Deus oferecer àqueles que O buscam, senão deixar-Se encontrar a Si mesmo?
Quanto mais o cristão penetrar no círculo aberto pela luz de Cristo, tanto mais será capaz de compreender e acompanhar o caminho de cada homem para Deus.

FÉ E TEOLOGIA

Como luz que é, a fé convida-nos a penetrar nela, a explorar sempre mais o horizonte que ilumina, para conhecer melhor o que amamos. Deste desejo nasce a teologia cristã; assim, é claro que a teologia é impossível sem a fé e pertence ao próprio movimento da fé...

TRANSMITO-VOS AQUILO QUE RECEBI

Quem se abriu ao amor de Deus, acolheu a sua voz e recebeu a sua luz, não pode guardar este dom para si mesmo. Uma vez que é escuta e visão, a fé transmite-se também como palavra e como luz...
O passado da fé, aquele ato de amor de Jesus que gerou no mundo uma vida nova, chega até nós na memória de outros, das testemunhas, guardado vivo naquele sujeito único de memória que é a Igreja;
É impossível crer sozinhos. A fé não é só uma opção individual que se realiza na interioridade do crente, não é uma relação isolada entre o « eu » do fiel e o « Tu » divino, entre o sujeito autônomo e Deus; mas, por sua natureza, abre-se ao « nós », verifica-se sempre dentro da comunhão da Igreja.

OS SACRAMENTOS E A TRANSMISSÃO DA FÉ

A Igreja transmite aos seus filhos o conteúdo da sua memória. É através da Tradição Apostólica, conservada na Igreja com a assistência do Espírito Santo, que temos contato vivo com a memória fundadora. E aquilo que foi transmitido pelos Apóstolos, como afirma o Concílio Ecumênico Vaticano II, 
abrange tudo quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé;

Se é verdade que os sacramentos são os sacramentos da fé,há que afirmar também que a fé tem uma estrutura sacramental; o despertar da fé passa pelo despertar de um novo sentido sacramental na vida do homem.

A FÉ DEVE BUSCAR A UNIDADE

A fé deve buscar a unidade de visão num só corpo e num só espírito. Neste sentido, São Leão Magno podia afirmar:  Se a fé não é una, não é fé.

DEUS PREPARA PARA ELES UMA CIDADE (cf. Heb11, 16)

Ao apresentar a Carta aos Hebreus vemos a preparação de um lugar onde os homens possam habitar uns com os outros. O primeiro construtor é Noé, que, na arca, consegue salvar a sua família (cf. Heb 11, 7). Depois aparece Abraão, de quem se diz que, pela fé, habitara em tendas, esperando a cidade de alicerces firmes (cf. Heb 11, 9-10).

A FÉ E A FAMÍLIA

O primeiro âmbito da cidade dos homens iluminado pela fé é a família; penso, antes de mais nada, na união estável do homem e da mulher no matrimônio. Fundados sobre este amor, homem e mulher podem prometer-se amor mútuo com um gesto que compromete a vida inteira.
Em família, a fé acompanha todas as idades da vida, a começar pela infância: as crianças aprendem a confiar no amor de seus pais. Por isso, é importante que os pais cultivem práticas de fé comuns na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos, crianças e jovens...
Assimilada e aprofundada em família, a fé torna-se luz para iluminar todas as relações sociais.
No centro da fé Bíblica, há o amor de Deus, e o seu cuidado concreto a cada pessoa...
A fé, ao revelar-nos o amor de Deus Criador, faz-nos olhar com maior respeito para a natureza, ajuda-nos a encontrar modelos de progresso, que não se baseiem apenas na utilidade e no lucro, mas considerem a criação como dom.

Quando a fé esmorece, há o risco de esmorecerem também os fundamentos do viver. Se tiramos a fé em Deus das nossas cidades, enfraquecer-se-á a confiança entre nós, apenas o medo nos manterá unidos, e a estabilidade ficará ameaçada.
Afirma a Carta aos Hebreus: « Deus não Se envergonha de ser chamado o “seu Deus”, porque preparou para eles uma cidade » (Heb 11, 16).
A fé ilumina a vida social: possui uma luz criadora para cada momento novo da história...

A fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto basta para o caminho.
Ao homem que sofre, Deus não dá um raciocínio que explique tudo, mas oferece a sua resposta sob a forma duma presença que o acompanha...

FELIZ DAQUELA QUE ACREDITOU (cf. Lc 1, 45)

Lucas explica o significado da « terra boa »: 
« São aqueles que, tendo ouvido a palavra com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança » (Lc 8, 15).
A Palavra ouvida e conservada, pode constituir um retrato implícito da fé da Virgem Maria;

ORAÇÃO À MARIA

Ajudai, ó Mãe, a nossa fé.
Abri o nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada.
Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos, saindo da nossa terra e acolhendo a sua promessa.
Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor, para podermos tocá-Lo com a fé.
Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e cruz, quando a nossa fé é chamada a amadurecer.
Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho.
Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz em nosso caminho.
E que esta luz da fé cresça sempre em nós até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor. Amém.

(Síntese feita pelo Pe. Edinaldo Mendes Tonete)